A morte dos cavalos (Q.S., 1.348-349)
Pentesileia, a rainha das amazonas, segue assassinando gregos. O poeta descreve que elas atacavam os guerreiros e seus cavalos. O trecho é:
ἵπποι δ' ἀμφὶ βέλεσσι πεπαρμένοι ἢ μελίῃσιν
ὑστάτιον χρεμέτιζον ἑὸν μένος ἐκπνείοντες.
(hippoi d'amphi belessi peparmenoi e melieisin
hystation khremetizon eon menos ekpneiontes.)
Cavalos perfurados
por flecha ou por freixo
relinchavam, exalando
suas últimas forças.
A passagem é muito marcante, para mim quase uma versão condensada daquela cena do morticínio dos cavalos em Grande Sertão: Veredas. Mas eu comento essa passagem porque, traduzindo-a, me veio uma questão gramatical:
o segundo verso poderia ser traduzido, à letra, como "[os cavalos] relinchavam pela última vez, enquanto exalavam sua força". ὑστάτιον funciona como um advérbio. Depois de tentar outras soluções, achei que transformá-lo em um adjetivo, que concordasse com menos (força), funcionaria bem em português, de modo mais conciso e eficaz, como acontece no texto grego, mas sem prejudicar o sentido. Além disso, a expressão "exalando suas forças" também me parece bem idiomática, o que, a meu ver, dá certa agilidade ao verso.
No outro verso, traduzi πεπαρμένοι (peparmenoi) por "perfurado", o que é uma tradução bem literal, com a felicidade de manter a mesma sonoridade do grego. A repetição de "por" é para adicionar impacto, mesmo...
Funciona muito bem, Rafa! Mas a estrela da passagem foi seu "por flecha ou por freixo": ótimo!
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